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Terça-feira, 30 de Setembro de 2025

Atletismo

25 anos da conquista do 4x100 m em Sydney - A prata que vale ouro

Revezamento brasileiro fez história e só perdeu dos Estados Unidos na final; seus componentes falam sobre o momento mágico da conquista de uma medalha olímpica em 2.000

Central Esportiva
Por Central Esportiva
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25 anos da conquista do 4x100 m em Sydney - A prata que vale ouro
Foto: Jonne Roriz/COB
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Naquela que seria a primeira Olimpíada "verde" e na virada do milênio, o revezamento masculino brasileiro do 4x100 m estabeleceu um marco no atletismo brasileiro, com a medalha de prata que completa 25 anos neste 30 de setembro de 2025, conquistada com um recorde que duraria quase duas décadas.

Vicente Lenílson, Edson Luciano Ribeiro, André Domingos e Claudinei Quirino ficaram atrás apenas dos EUA, deixando Cuba e Jamaica para trás. Anos depois, Cláudio Roberto de Souza, que participou das eliminatórias, também receberia sua medalha pelo time, que ainda teve Raphael Raymundo na reserva.

A passagem de bastão daquela equipe, que tinha Jayme Netto como técnico e o fisioterapeuta Marcelo Pastre, era considerada a melhor do mundo. Seus componentes vivenciaram a emoção de quem chega a uma final olímpica. Mais que isso: ao pódio. Somente depois, passado o turbilhão de emoções, são reveladas curiosidades, reflexões... E também detalhes decisivos que contribuíram para aquele momento mágico.

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Vicente Lenílson, por exemplo, vinha de lesão na virilha sentida na semifinal, mas ainda assim abriu o revezamento, passando o bastão para Edson Luciano. Este, por sua vez, pouco havia dormido na noite que antecedeu a final.

Confessou mesmo que, na pista, não conseguia nem contar os 27 "pés" para colocar a fita de marcação no local onde deveria se posicionar e então fazer sua oração. Só conseguiu se acalmar quando o telão mostrou um rápido clip das medalhistas do dardo que aguardavam a premiação, porque aí se conscientizou de que estava em uma final de Olimpíada.

Segundo homem, partiu com tudo para os 100 metros seguintes, que teria André Domingos na sequência. A essa altura, Cuba ainda estava na segunda colocação, com Freddy Mayola. Mas Claudinei Quirino acelerou, passando o cubano para cruzar a linha de chegada.

A medalha de prata do Brasil veio com 37.90, recorde sul-americano, contra os 37.61 dos EUA (que ficaram a 21 décimos do recorde mundial de 37.40, estabelecido na Olimpíada de Barcelona 1992). Cuba fechou 38.04 e ficou com o bronze, seguida da Jamaica, quarta colocada com 38.20.

O recorde sul-americano daquela equipe brasileira em Sydney 2000 durou quase 20 anos – só foi batido no Mundial de Doha 2019, onde Rodrigo Nascimento, Vitor Hugo dos Santos, Derick Silva e Paulo André fecharam em 37.72 para o quarto lugar, atrás de EUA, Grã-Bretanha e Japão.

Treinos e sensações

Para Vicente Lenílson, a final olímpica dos 4x100m foi "o dia mais mágico da minha vida", porque havia acompanhado Edson Luciano e André Domingos pela tevê no bronze de Atlanta.

"Em 1996, ainda brinquei: um dia quero ser igual a esses caras. E então eu olho... e estava ali. Dentro da final olímpica, com eles." Em Sydney, acrescentou Vicente, cada um  da equipe tinha sua qualidade e era adversário do outro nos 100 m e 200 m, "mas quando a gente se juntava para o revezamento... era imbatível".

Raphael Raimundo, que participou da conquista em Sydney mesmo ficando na reserva, observa que a passagem de bastão dos brasileiros era a melhor do mundo, "tanto que os outros países ficavam de olho na gente e começaram a treinar baseados nas nossas passagens".

Edson Luciano contou que era "umas duas horas da manhã" na véspera da final, quando encontrou Claudinei sentado perto de uma janela do alojamento da Vila Olímpica, dizendo que não conseguia dormir. Depois, também lembrou que na pista não conseguia contar os 27 "pés", porque "ia e voltava entre o um e o três", até pensando que seria melhor ter perdido para o Japão na semifinal para não passar por tanto nervoso.

"É muito tenso, muito complicado falar das sensações que passam pela cabeça e pelo corpo, explicar para quem fica em casa vendo pela tevê." Para Edson Luciano, o atleta precisa ter consciência do treinamento que fez, do que ele próprio representa, "porque muitas vezes essa é a linha tênue entre a conquista ou não de uma medalha".

Sobre o recorde ter durado quase 20 anos, a evolução tecnológica foi lembrada por André Domingos, na comparação com o material disponível há 25 anos, quando subiram ao pódio olímpico:

"As pistas de atletismo passaram a ser feitas para quebra de recordes, as sapatilhas são ultraleves, com menor número de pregos, os uniformes... Também os treinamentos mudaram. Agora não se treina tanto – chegamos a treinar oito horas por dia e hoje são três horas, duas e meia." Para ele,  com os equipamentos de hoje, o tempo da prata de Sydney-2000 "poderia ser muito abaixo". 

De Vicente Lenílson para Edson Luciano, para André Domingos... e Claudinei Quirino. Com 80 mil pessoas no estádio Claudinei 'gelou' quando o público começou a gritar e teve medo de não ouvir o 'vai Nei' na passagem de bastão. "Senti o perfume do André, joguei o braço para trás e o bastão chegou", falou aquele que fechou o revezamento pelo Brasil.

Para Claudinei, muitos perguntam do tênis que se compra nos EUA, da sapatilha, da roupa coladinha, de suplemento... "Mas o segredo do sucesso é treinamento. Todos os dias, no Natal, no Ano Novo, no sol, na chuva." Sobre o revezamento, ainda frisou a importância quanto ao respeito e à confiança que os atletas precisam ter, um com o outro.

Doping confesso

Os EUA venceram a final do 4x100m de Sydney-2000 com Jonathan Drummond, Bernard Willians III, Brian Lewis e Maurice Greene (este, o então recordista mundial com 9.79, batido no ano anterior em Atenas).

Mas os americanos ainda haviam contado com Tim Montgomery nas eliminatórias – e seria ele que, em 2008, surpreenderia o atletismo com uma revelação ao canal HBO, de que havia corrido sob uso de doping (testosterona e hormônio do crescimento) naquela Olimpíada de 2000. 

Mas somente em 2003 a Federação Internacional de Atletismo Amador – IAAF à época)  – mudaria as regras para determinar a desclassificação da equipe inteira de revezamento se detectado doping, mesmo que fosse por parte de apenas um atleta. Assim, o Brasil não herdou o ouro – manchado – dos EUA.

FONTE/CRÉDITOS: CBAt
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Redação / Central Esportiva

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